06 novembro, 2006

MINI CONTO

Ponteiro pequeno no quatro. O grande no seis. O dos segundos, insiste. O tempo parou. Três gatos andam pelas bordas dos telhados. Parapeitos inertes gemem.

Fronteira entre ócio e tédio. Vento nordeste. Tudo espera. Os músculos doem. Vamos envelhecendo sem sequer nos olhar nos olhos. Nossas marcas na pele e cabelos brancos testemunham a morte eminente. Sua flacidez indiferente e o cansaço dos assuntos nos entorpecem. No espelho uma estranha olha decepcionada para meus peitos.

Todo dia juntamos o lixo e colocamos em frente à grade que nos protege-prende. O gato amarelo, o maior e mais peludo me olha. Tínhamos tudo, menos tempo. O ponteiro dos segundos também parou. Os gemidos eram de dor. Abro a grade, esqueço o lixo, os meus peitos e me perco nos parapeitos daquele olhar castanho.

Elaine

05 novembro, 2006

EROS E PSÍQUE


Escute com Maria Bethania

Eros e Psique
Fernando Pessoa


Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.


..E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades
que vos foram dadas no Grau de Neófito, e
aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto
Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.

(Do Ritual Do Grau De Mestre Do Átrio
Na Ordem Templária De Portugal)



Publicado pela primeira vez in Presença, n.os 41-42, Coimbra, maio de 1934. Acerca da epígrafe que encabeça
este poema diz o próprio autor a uma interrogação levantada pelo crítico A. Casais Monteiro, em carta a este
último:

A citação, epígrafe ao meu poema "Eros e Psique", de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do
Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente - o que é fato - que me foi
permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de
1888. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a
origem) trechos de Rituais que estão em trabalho [In VO/II.]

DIA DE CHUVA

PLEASE,

DO

NOT

DISTURB!
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04 novembro, 2006

EM CHAMAS- ME CHAMAS


Adoro essa cidade. Acontece tanta coisa, todo tempo. É meio provinciana, às vezes, mas até disso eu gosto. Ando apegada à Porto Alegre. Na feira do livro tem muita coisa boa: contação de hisstórias da Liza Mendes, show da Renata Adegas, livro infantil do Celso, lançamento do Charles. Tem boteco no cais do Porto. Queremos cais do porto todo ano com boteco! O rio (lago) Guaíba é tão lindo. E a lua quase cheia! É muito romântico! E os dindinhos andando pelo centro? Que amor! Mas, Porto Alegre tem muito mais. No teatro, a estréia de Mamãe foi pro Alaska, arrasou! Carlos Ramiro, Evandro, Airton, sabe, essa gente que se vê todo dia, se toma café, fala bagacerice para apimentar o dia. De repente estão lá: brilhando, brilhando! Tem tanta gente boa, fazendo o que quer, indo à luta, se revelando. E nessa quarta, a Maria Rotemberg, Na batida!
Eu estou apaixonada! Porto Alegre em chamas, me chamas!

Amor platônico é muito bom. Principalmente se um dia não for platõnico. Será que nunca perco essa mania de adolescente?

Me lembrei do Saussure, o pai da lingüistica. Ele que inventou esse papo de signo ser a união do significado com o significante. Depois o Lacan inverte isso, dizendo que o significante faz barra ao significado. Muito bom! Mas, o que o Saussure tem de mais genial, não é o que ele fez no seu Curso de Lingüistica. Foi a sua loucura pelos contos gregorianos. Sabem o que ele ficava fazendo? Buscando anagramas. Tipo assim: palavras dentro de palavras, como se houvesse uma lógica escondida, ou disfarçada. Palavras sob palavras. Alguns dizem que a Bíblia conta a verdadeira história das religiões assim. Sei lá por que lembrei disso.

03 novembro, 2006

MUJERES

Em cena, Alice Ruiz:


Então é você
(Estrela Ruiz Leminski e Alice Ruiz)

Então é você
que bem antes de mim
diz o que eu queria dizer
tão bem quanto eu diria.
E quem diria?
ainda melhor
Acho que teu nome é poesia
e por isso todos te chamam
Então é você
tua simples presença
preenche a minha existência
me faz ver o que eu não via.
E quem diria?
ainda melhor
Acho que teu nome é vida
e por isso todos te querem
Então é você
que quando fala
instala a compreensão
de tudo que eu seria.
E quem diria?
Ainda melhor
Acho que teu nome é amor
e por isso todos te amam
E quando todos te chamam
quem sou eu pra não chamar?
E quando todos te querem
quem sou eu pra não querer?
E porque todos te amam
"eu sei que vou te amar”

Prá que sentido se tudo vibra, diz Alice, nome da minha personagem amada de Lewis Carwel(como sempre, não sei a grafia).
Está feito o chamado, oficialmente! Posted by Picasa

02 novembro, 2006

MARGENS

margensmargensmargensmargensmargensmargensmargensmargensmargensmarsegmarsegmarsegmarsegmarsegmarsegmarsegmarsegmarsegmarsegmarsegmar
Sigam as margens do rio, esses contornos são marcas na areia do vai e vir das águas. Marcas-movimentos, desenho das margens do rio Guaíba.

Prefiro as margens às fronteiras.
Post by: elaine




Foto: Cris.
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REVELAÇÃO


No mesmo dia em que descobriu que havia inventado a confusão à qual estava metida, ela resolveu abrir os blogs que costumava ler. Por vício, fuga ou necessidade, ela fazia isso toda noite. Às vezes, como por compulsão, pulava da cama e sentava-se à frente do computador. Noites de insônia, ou de escolha?
O fato é que, navegando ela foi indo de blog em blog, aprofundando-se em páginas desconhecidas. De repente, como no espelho de Alice, ela entrou num território absolutamente (des)conhecido. Um blog que se dirigia à ela. Tudo que ela lia, eram respostas às suas questões. Palavras de ternura às suas dores mais secretas. Gargalhadas se espalhavam numa postagem que relembrava suas bobagens. Lá estavam seus amores se declarando, os passos de suas viagens mais bacanas e o registro dos sabores que mais tinha amado. O cheiro de jasmim exalava e se ela fechasse os olhos tinha medo de sentir os toques dos homens que tinha amado. Só dos que tinha amado. Os outros, não temia. Assim, ela foi navegando e descobriu, que nessa janela secreta alguém havia registrado sua vida e dialogava com ela. Sim, aquele blog não havia sido feito por ela, mas sim, feito para ela. Transtornada ela se deu conta que em algum lugar obscuro da rede, como na vida, havia um mundo subterrâneo em que tudo está relacionado.
E você? Já teve essa sensação? Essa postagem é um toque. Tudo que escrevo é para você!

PÓ E SIA

Vícios de vice verso
(ELAINE)

Sou refúgio
Em que me habitas
Sou conto de fadas
Em que te invento
Sou noite de orgia
Que vira poesia

Ou vice-versa

És refúgio
Em que te habito
És conto de fadas
Em que me cria
És poesia que vira
Noite de orgia

Vícios
de vice verso Posted by Picasa

PÓ E SIA

INSTANTE NÃO
(elaine)


INSTANTE
SEM
ETERNO


MOMENTO

NÃO

TERNO

IN
VERNO Posted by Picasa

ALSO

Fico pensando, isso aqui está um caos. É um pouco de cada coisa, vários fragmentos que não se ordenam numa classificação. É assim, sempre foi. No início, confesso, me sentia insatisfeita com essa mania de incompletude. Começava uma coisa aqui, continuava um pouco ali, ia mais adiante, voltava para o começo. Que coisa mais desordenada. Sempre foi um caos. A ordem é uma farsa do pensamento cartesiano. Tá bem, amigos astrológicos, podem dizer que issso é desculpa de libriana, ou então, amigos lacanianos, que isso é discurso histérico. O que quero dizer é que, meu caos tem me levado a invenções muito legais. Tá, confesso que invejo um pouco os blogs bonitos, com categorias tipo magazines virtuais. Mas,para mim, isso aqui, é só uma (ex)posição de ser falante. Se vissem meus labirintos, iam entender meus descaminhos. Eu aceito como as coisas são. Isso também, eu aceito.

There is a midle point in your life

That you have to appreciate

It is called ALSO

You can feel that

you’re the greatest asshole in the world,

and when some body says that

ALSO you are very beautiful,

You have to accept that, tôo.

ALSO lets you slide between being beautiful

And being ugly

If you learn to appreciate ALSO,

It is like na insurance program

For being enlightened

We only have this much time to live.

Within that time include everything:

I fucked it up, ALSO,

I feel grate ALSO,

I had the greatest orgasm ALSO,

I blew it ALSO,

When you allow that,

It is beautiful.

I am beautiful

Because I allow the ALSO´s im me.

I am beautiful/because I accept my ugliness, and I acceptfeeling guilty

And I accept wishing I can do it better

And if you never come in a situation

Where you don’t accept ALSO

That is na ALSO, also


MUJERES

Magda recorta palabras de los diarios, palabras de todos los tamaños, y las guarda en cajas. En cajas rojas guarda las palabras furiosas. En caja verde, las palabras amante. En caja azul, las neutrales. En caja amarilla, las tristes. Y en caja transparente guarda las palabras que tienem magia.
A veces, ella abre las cajas y las pone boca abajo sobre la mesa, para que las palabras se mesclen como quieran. Entoces, las palabras le cuentam lo que ocurre y le anuncian lo que ocurrirá.
Galeano
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