03 setembro, 2006

AMIGAS

- Lembra aquela vez que tu veio de Fortaleza e a gente foi conhecer aquele bar, um tal de América?
- Na Nilo?
- É.
- No outro dia peguei o avião, bêbada.
- E eu, no outro dia, ligava prá minha mãe entre uma consulta e outra. Achei que ia morrer desidratada por que nada ficava no meu estômago. Fiquei ruim uns quatro dias.
- Foi muito wísque.
- É foi muito wísque.
- Mas, tu beijou naquela festa, heim?
- Tava assim, todo mundo beijava todo mundo. Sobrou até uma prá ti. Lembra que a gente se beijou?
E as duas amigas se dobravam rindo das suas lembranças.
- Eu comecei a beijar também. Me senti deslocada e entrei na onda. No meu tempo a gente só ficava com um por noite.
- Os tempos mudaram.
- E a gente já tinha mais de trinta naquela época.
- E aí? Agora temos mais que quarenta.
E elas gargalhavam.
- O pior foi o day after, o telefonema que eu recebi.
- Por que mesmo?
- Era da empresa do meu pai. Alguém achou minha carteira de identidade na rua, procurou pelo sobrenome no guia e foi entregar em mãos para o meu pai. Que mico!
- Que micão!
- E lembra que no fim do ano fui com tua irmã passar o revellion em tua casa? Tu morava na Praia do Futuro.
- Claro, eu ia prá Europa com meu marido e vocês duas iam cuidar dos meninos.
- Teu filho devia ter uns seis anos e teu enteado uns quinze, né?
- Por aí.
- Foi ótimo, que terra bem gostosa, aquelas praias maravilhosas...
- Ótimo foi o que aconteceu com vocês duas na festa de revellion
- Nem me fala.
E as duas davam gaitadas.
- Foi num clube chiquérrimo, nunca vi tanta gente brega!
Muitos risos.
- Aquilo é a alta sociedade cearense.
- Mas tinha só do bom e do melhor, muito champanhe, muito! Teu enteado foi com a gente. Ele nos dava banho de espumante. Fiquei toda molhada.
- Ele bebeu todas.
- Eu e tua irmã também.
- Fim de ano é assim.
- E vocês estavam em Londres, né?
- É.
- A festa foi ótima, o problema foi a volta. Eu que tava dirigindo. E tava prá lá de Bagdá. Eu pegava o avião às sete de volta pra Porto Alegre, tinha que trabalhar.
- Puts!
- Daí, me perdi, acabei numa favela. Já tava amanhecendo e eu com a cabeça prá fora do carro gritava: Praia do Futuro, Praia do Futuro. Tinha certeza que ia perder o avião.
- Mas, não perdeu.
- Não, mas perdemos teu enteado na festa. Esquecemos dele, completamente.
- Suuuuuper responsáveis!
Risadas.
- A tua irmã o encontrou às dez da manhã. Voltando a pé pra casa. O guri tava um zumbi.
- Ele confessou que dormiu numa moita na festa, vocês não iam encontrar ele nunca.
- Tadinho!
- Na hora de ir embora, perdi uma lente de contato e voltei zarolha. Foram seis horas de viagem, com conexão no Rio, zarolha!
- Acontece!
As duas se olhavam emocionadas, tudo era engraçado.
- Fui trabalhar honrosamente no dia dois de janeiro.
- E aquele carnaval na Ferrugem?
- A gente andava no meio da lama, lembra? Tinha chovido e a estrada de areia, virou lodo.
- A gente caminhando de mãos dadas, indo prá casa, rindo na lama.
- Isso que é lama!
- E as pessoas passavam, indo prá praia de cadeirinha.
- Encontramos tua irmã indo prá praia...
Mas que bom que tu veio passar uns dias em Porto Alegre.
- É, mas são só três dias...
- Ah, lembrei outra, quando fomos pra festa à fantasia no Jangadeiros!
- É, nós nos perdemos e saímos de Pedrita , com micro saia andando pela zona sul.
- Eu sempre me perdia de carro na zona sul.
- Legal foi tomar café da manhã na casa dos teus pais. Eles tinham ido viajar.
- Isso, a gente namorava aqueles irmãos velejadores.
- Lembra do Queixinho?
E as duas rolavam rindo. Posted by Picasa